Danilza Queiroz
2 min readDec 26, 2023

A maternidade sempre foi dúbia.

um mesmo sentimento que pode significar infinitas coisas.

Te ver ir é devastador. Mas como eu poderia te pedir pra ficar?

Por isso, na mesma medida em que imploro pra te ter sempre aqui, protegida em meus cuidados de mãe, eu sei que preciso lidar com a saudade, sem que ela te sufoque.

em um dos tantos textos que já escrevi sobre a nossa relação, filha, eu dizia que “quando passei algumas horas longe de você, minha barriga doía, meu coração se entristecia e meu corpo todo continuava se preparando pra te alimentar. E na minha cabeça não fazia sentido estar fazendo qualquer outra coisa naquele momento. Ainda assim eu fiz.

Fiz porque, apesar de tão difícil e desesperador, é importante não abandonar meus sonhos, para que um dia você saiba que é possível realizar os seus.”

Quando escrevi isso, no auge de seus 4 ou 5 meses, era a primeira vez que eu passava algumas horas longe de você, pra trabalhar.

E até hoje me lembro do quão sincero foi esse relato. Que fala justamente sobre escolhas difíceis, que são muitas vezes sobretudo para não me abandonar.

Filha, eu não planejei ficar longe de você um minuto sequer. Nunca planejei ter que dividir o seu desenvolvimento. Eu não planejei passar dias longe de você. Mas a verdade é que a vida é muito mais sobre improviso do que sobre planejamento. Mas nossa relação sempre foi pautada no subjetivo. No olhar. Na sensibilidade. Na intimidade. Na confiança que construimos uma na outra.

É por isso que, mesmo que as coisas não estejam acontecendo conforme o planejado, eu confio em nosso laço. Que nada, nem distância, nem tempo, pode desfazer.

É por isso que mesmo que semana sim, semana não, estejamos longe, o meu coração está em paz em saber que você continua sendo cuidada e amada, e que esse amor não vem só de mim. Afinal de contas, você merece todo o amor do mundo.

Me lembro, ainda, que quando descobri minha gravidez (eu também não planejei ser mãe), foi a minha preocupação comigo que construiu a estrada que trilho em minha maternidade até hoje. Eu não estava disposta a sofrer todas as violências, físicas e psicológicas, que mulheres gestantes passam. Então estabeleci comigo mesma que seria diferente. E nada nem ninguém pôde mudar isso.

É por isso que, uma carta que inicia falando de você, termina falando de mim. Não me abandonar tem sido a melhor decisão que tomo todos os dias, por nós.

Porque não, filha, eu não planejei muitas das coisas com as quais tive que lidar. Mas eu sempre soube que pra estar aqui pra você eu precisava existir.

É por isso que eu vivo a mulher, pra além de viver a mãe. Para que um dia você saiba que é possível construir boas trajetórias, sem que pra isso você precise desaparecer.

Te ver ir é doloroso. Mas é lindo de ver voltar, sempre.

Danilza Queiroz

poemizando o que eu ainda não entendi mas consigo sentir